Dom Ricardo: garantia de direitos passa por reconhecimento da dignidade humana

Na comemoração dos 72 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Ricardo Hoepers, destacou em cinco pontos que a garantia dos direitos humanos passa, em primeiro lugar, pelo reconhecimento da dignidade humana.

Dom Ricardo Hoepers foi um dos expositores da mesa “Direitos humanos e preservação da vida”, que faz parte da programação do webinário “Direitos Humanos importam”, promovido nesta quinta-feira, 10 de dezembro, pelas entidades signatárias do Pacto pela Vida e pelo Brasil.

Dom Ricardo apresentou sua reflexão a partir da perspectiva utilizada pelo Papa Francisco em sua recente encíclica Fratelli Tutti – sobre a fraternidade humana. “Para nós, Deus criou todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, e os chamou a conviver entre si como irmãos”, destacou o bispo.

Princípio de tudo

Citando a encíclica Fratelli Tutti, na qual o Papa “faz uma íntima relação entre Direitos Humanos e Dignidade Humana”, parágrafo 22, dom Ricardo salientou que a dignidade humana é o “princípio de tudo” e que esta deve ser reconhecida como “própria da natureza humana”. Esta ideia deve ser pressuposto ao se falar em preservação da vida.

Sem dignidade, a vida é banalizada

O Pacto pela Vida e pelo Brasil expressa de forma clara a preocupação com a banalização da vida, destacou dom Ricardo, ao recordar o aumento da violência, da exclusão, do racismo, da pobreza, da miséria e da fome “nesta sociedade que se diz sociedade da justiça e do direito”.

Para o bispo, essa banalização se expressa na ausência de políticas publicas adequadas, “criando lacunas no no atendimento às demandas mais básicas da organização social”. No Brasil, continuou, “nós vemos constantemente colapsos na saúde, na educação, na segurança, na preservação do meio ambiente, nas comunidades tradicionais, nas questões de moradia, na vida urbana, inúmeras outras realidades onde a vida, onde deve ser preservada, está sendo devastada”.

Visão reducionista da vida e o lucro

A globalização da indiferença agride sistematicamente a dignidade humana. A raiz dessa questão, segundo dom Ricardo, também é objeto de reflexão do Papa Francisco: uma visão antropológica reducionista e um modelo econômico fundado no lucro.

“Esse modelo econômico vigente impõe um jogo permanente de sobrevivência onde o espírito de ódio e de desprezo prevalecem sobre os direitos humanos e os mais vulneráveis são os mais atingidos com uma sobrecarga de sofrimentos físicos, psíquicos, morais, sociais”.

Para dom Ricardo, é um cenário que representa “uma degeneração inaceitável” da moralidade e da ética alimentando uma cultura de morte: “Com isso, a preservação, a tutela e a promoção dos valores humanos são enfraquecidos, instrumentalizados, manipulados e desprezados”.

Sem dignidade humana, a natureza sofre

Dom Ricardo continuou sua apresentação a partir da perspectiva do Papa Francisco e destacou o perigo de que a dignidade humana, sendo banalizada, se banalize também a própria visão ecológica e da natureza. “Os mesmos que exploram, manipulam e desprezam a vida humana são os que exploram, manipulam e desprezam o planeta, a nossa Casa comum. É uma consequência logica e nefasta”, observou o bispo.

Na ideia de que tudo está interligado, dom Ricardo sublinhou que o ambiente humano e o ambiente natural degradam-se em conjunto. “E não podemos enfrentar adequadamente essa degradação ambiental se não prestarmos  atenção às causas que tem  a ver com essa degradação humana e social. De fato, a deterioração do meio ambiente e da sociedade afretam de modo especial os mais frágeis do planeta”, pontuou.

Um pacto de responsabilidade de todos

Ao finalizar sua reflexão, dom Ricardo apontou para a necessidade de um “pacto de responsabilidade de todos” e ressaltou que o Pacto pela Vida e pelo Brasil deverá ter um caráter de diálogo, de encontro, de busca de consensos, “visando um projeto amplo de responsabilidade de todos, onde a vida seja respeitada na sua integralidade e a casa comum seja preservada em vista das futuras gerações”.

No entanto, dom Ricardo ponderou que é preciso um projeto “que vai aos poucos se desenvolvendo e que não seja um projeto de uma minoria esclarecida somente”, que se aproprie de um sentimento coletivo. O projeto em torno do Pacto pela Vida e pelo Brasil, segundo dom Ricardo, deve ser um compromisso, um pacto social, cultural, em vista de uma responsabilidade coletiva “que garanta ao ser humano a dignidade que lhe é própria e possibilite às próximas gerações receber um mundo viável e digno para se viver e conviver”.

Por CNBB

Autor: Pastoral Familiar

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